Conversando com o Rio
"Quem lhes dirige esta Carta somos nós Vazanteiros, cujo nome vem da nossa agricultura associada aos ciclos de cheia, vazante e seca do rio São Francisco. Somos um povo que vive em suas barrancas e ilhas em permanente mobilidade, manejando os lameiros fertilizados que o rio devolve, tirando o sustento da pesca, do extrativismo e da criação de animais.
Temos, porém, uma história de migrações ao longo do rio, cedendo a processos externos dos quais nunca fomos considerados. Hoje, depois de mais de 400 anos de convivência, querem nos expulsar das margens e terras altas que nos sobraram. Depois de muito judiarem do nosso rio com impactos de todos os tipos, vêm nos dizer que os territórios onde habitamos e tiramos o nosso sustento, é área de preservação ambiental. Falam em transpor suas águas, falam em transpor seus povos numa naturalidade só.
Nós somos como o rio, sofremos com ele quando suas nascentes secam, seu leito se enche de areia, suas águas diminuem, perdem força, são represadas, poluídas, degradadas. O nosso reconhecimento é o reconhecimento do rio, o São Francisco não pode ser revitalizado sem nós, o povo Vazanteiro. A história conta, é nosso dever, nosso direito."